24 outubro 2008

A Linguagem do Reino


“Louvai-o pelos seus poderosos feitos”.
(Salmos 150: 2).

De todos os personagens Bíblicos, Davi é o que melhor nos fala acerca do louvor e da adoração. Ele discorre mais que qualquer outro e com mais autoridade sobre como expressar o amor do reino que temos em nosso coração.
Algum tempo atrás, resolvi ler todos os salmos de Davi de uma assentada. Não tencionava procurar versos especiais nem mensagens de conforto ou encorajamento. Apenas queria aprender alguma coisa acerca de Davi, pois desejava ser como ele.
Descobri que o livro é como uma sinfonia. Ele começa bem suave. Da-nos a mesma sensação de quando ouvimos uma orquestra filarmônica pela primeira vez. Vemos todos aqueles instrumentos e calculamos que iremos ser totalmente envolvidos por uma avassaladora onda de sons.
Mas, então, começa a tocar apenas dois ou três violinos. Que decepção! Depois, de pianíssimo, a musica passa para piano. A seguir, fica um pouco mais forte... Meio forte... Forte. E, quando todos os instrumentos estão soando juntos, ficamos quase amedrontados.
O Salmo 150 é o fortíssimo de Davi, o “grand finale” da sinfonia.

Louvai-o ao som da trombeta;
Louvai-o com saltério e com harpa;
Louvai-o com adufes e danças;
Louvai-o com instrumentos de corda e com flautas;
Louvai-o com símbolos sonoros;
Louvai-o com símbolos retumbantes;
Todo ser que respira louva ao Senhor.
Aleluia!

Porque todo esse barulho? Por causa de seus “feitos poderosos”.
Eu nasci e me criei em uma igreja que dava muita importância ao louvor a Deus. Bem cedo, aprendi as palavras de louvor. Contudo, não entendi claramente o conceito certo de louvor, embora dedicássemos uma grande parte de nossos cultos ao louvor.
O que é louvar? Qualquer dicionário nos dirá que “louvar é reconhecer as virtudes de alguém”.
Louvar não é apenas repetir a palavra “louvor”. Se eu estou num culto e ouço alguém fazer um belíssimo solo, eu não me dirijo a esta pessoa e fico a repetir: “Eu o louvo! Eu o louvo! Eu o louvo”! Isso não é louvar. Tenho que louva-lo por algo que ele fez. Eu deveria dizer:
“Olhe, quando você começou a cantar, meu coração se abriu à mensagem do hino. Olhei para as pessoas ao meu lado, e vi que também elas, todos nós estávamos arrebatados pelo seu canto”.
Se eu me aproximar de um pintor e disser: “Oh! Eu o louvo, aleluia!” Ele sairá correndo, fugindo de mim.
Eu deveria ter dito: “Eu estava observando seus quadros, e gostei muito da maneira como você pintou aquela mão segurando a xícara – é simplesmente maravilhoso. Parece até que ela está saindo da moldura e convidando-nos a sentar e jantar”.
Uma grande parte de nosso louvor consiste somente em repetir a palavra “louvor”, e isto não significa nada.
Nossas palavras são como caixas vazias. Para ensinar a minha igreja esta lição, comecei a interrogá-los. Todas as vezes que alguém disser: Gloria a Deus! Eu diria: “Espere um pouco, porque você esta louvando ao Senhor”?
“Bem, eu estou louvado a Deus, ahhh... porque, bem ahhh...” Não sabia.
Alguém dizia: “Aleluia”!
E eu perguntava: Porque você disse: Aleluia?
Bem, eu disse aleluia por que... ahhh... é... ahhh...
“Você disse aleluia porque é Pentecostal e faz parte da nossa liturgia dizer, aleluia”.
“Davi disse: Louvai-o pelos seus poderosos feitos”. Mas nós não temos feito isto.
Nós chegamos à igreja puxando um carrinho de mão cheios de caixas belamente embaladas e atadas com lindas fitas, ostentando cartões que trazem os dizeres: Gloria ao Senhor! Aleluia! Gloria a Deus! E Amem.
E os pastores dizem: “Que gente maravilhosa”! Eles trazem tanto louvor à igreja!
E todas as caixas são levadas ao altar.
Mas quando Deus as abre, não encontra nada dentro.
Certa vez eu disse pra mim mesmo: Já estou na igreja há mais de trinta anos – isto é, desde que nasci. O que aprendi este tempo todo a respeito do louvor?
Bem eu aprendi a repetir quatro formulas de louvor: Aleluia, gloria a Deus, gloria ao Senhor, e Amém. E isso com trinta anos.
Há! Aprendera também a gritar estas quatro expressões.
E ultimamente eu dera um passo à frente dos mais antigos; aprendera a cantá-los também. As palavras eram as mesmas, mas agora eu as cantava, e achei que aquilo era sensacional.
E eu disse: Senhor será que isso é tudo o que eu posso oferecer-te em matéria de louvor?
Depois, então, li um verso que Devi escreveu: “Louvai-o pelos seus poderosos feitos”. E compreendi que cada palavra de louvor deve ter um motivo. Temos que saber por que louvamos o Senhor. De outro modo, estaremos apenas nos enganando, pensando que estamos louvando ao Senhor, quando na realidade, estamos apenas pronunciando algumas palavras.
Suponhamos que eu saia para fazer compras. Quando volto para casa minha esposa pergunta:
- Onde você esteve?
- Fazendo compras.
- O que você comprou?
- Nada. Fui fazer compras, mas não comprei nada.
Eu disse a palavra compras, mas não fiz compras. Apenas fiquei andando de um lado para outro.
Muitos de nós empregamos palavras de louvor; nós as repetimos muitas vezes. Mas não estamos louvando realmente. Deus não quer palavras: Ele quer louvor. Ele não esta interessado nas caixas; quer o conteúdo delas.
Minha igreja aceitou bem essa primeira proposição, e então resolvi dar mais um passo.
“Para podermos avançar nesta questão de louvor, disse-lhes: ‘Durante este mês estamos proibidos de pronunciar estas quatro formulas de louvor em nossos cultos. Vamos continuar louvando a Deus, mas procurando outras palavras”.
Ninguém sabia mais louvar a Deus. Minha esposa perguntou:
“Juan, se não posso dizer aleluia, o que vou dizer então? Afinal de contas, os anjos dizem: Aleluia”!
Certo, respondi-lhe, mas dizem: “Aleluia, pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso” (Ap. 19: 6). Eles louvam a Deus “pelos seus poderosos feitos”. Precisamos ter em mente um feito poderoso de Deus quando O louvamos, senão nosso louvor é vazio.
Nós nos tornamos como caminhões pesados, quando atolam na lama. Ficam presos ali, as rodas derrapando violentamente, fazem um enorme barulhão, queimam bastante combustível – mas não saem do lugar.
Eu estava com o mesmo problema – fazia muito barulho, mas estava grudado no chão. Não tinha palavras. Reconheci minha pobreza no louvor, e disse: “Senhor, acho que, para o meu coração, o Senhor não significa muita coisa. Se não canto os Salmos de Davi ou os hinos do hinário, não tenho muita coisa pra dizer-te”.
Mas nós aprendemos bastante com aquela experiência. Descobri que estivéramos avaliando nossas reuniões pela quantidade de palavras de louvor que ouvíamos o que, muitas vezes, não significavam nada. Comecei a procurar em minha vida e experiências fatos e bênçãos pelos quais eu podia louvar a Deus. E encontrei o Senhor em lugares onde nunca pensei que estaria.
Passei a ver Cristo no meu irmão. A principio, a única coisa que eu conseguia dizer era: “Gloria a Deus, porque Ele tem uma fisionomia alegre”. Mas, depois, passei a me lembrar que Ele vivia dentro dele (meu irmão).
E, eventualmente, vim a compreender que o louvor não é apenas uma explosão de palavras que pronunciamos no domingo pela manhã. O louvor é toda uma linguagem. O louvor é a linguagem do reino de Deus. Assim como o espanhol é a língua da argentina, o inglês a linha dos Estados Unidos e da Inglaterra, o português a do Brasil e Portugal, assim, o louvor é a linguagem do Reino de Deus. Os cidadãos deste reino falam seu idioma, e nós nos reconhecemos uns aos outros pelo sotaque.
É como disse Davi: “O seu louvor estará sempre em meus lábios” (Sl. 34: 1). Ele louvava a Deus no leito, da mesma forma que louvava durante o dia. Para Deus, existem somente duas línguas neste mundo; a língua de seu Reino e a do reino das trevas. A primeira é a linguagem do louvor; a outra a da queixa. O louvor exalta virtudes. A queixa critica virtudes. Todo ser humano fala uma língua ou a outra.
Vamos escutar um pouquinho os cidadãos do reino das trevas.
O despertador toca pela manhã: - “Áhhhhhh! Quem foi que inventou o trabalho”?
Assenta-se para o desjejum: - ”O café está muito quente”.
Eles reclamam do tempo, do governo, do trafego, de tudo. É toda uma linguagem.
Foi um choque para mim constatar que os cidadãos do reino de Deus, na maior parte do tempo falam o idioma errado. Eles vão à igreja e cantão: - Aleluia! Aleluia! Depois, quando o culto termina, eles saem: - Ih! Está chovendo. Que dia horrível!!!
Quem fez o dia? O senhor.
Talvez eles devessem fazer uma corrigida naquele conhecido corinho, e canta-lo assim: “Este é o dia que fez Senhor, vamos criticar e reclamar”.
Como podemos cantar: “Gloria Deus”! E instantes depois criticarmos a mesma pessoa? Nosso louvor não alcança nosso entendimento. Louvamos sem saber o que estamos fazendo.
Às vezes alguns americanos se aproximam e mim e dizem: Como esta usted?
E eu respondo: “Muchas gracias; muy bien; y usted”?
Então eles riem e dizem: “Ah, bom, eu não sei mais nada de espanhol”.
O espanhol não é a língua deles; tudo que sabem são algumas palavras que aprenderam na escola. Seu vocabulário é muito limitado.
O mesmo acontece com alguns crentes. A sua língua não é o louvor; eles sabem apenas algumas palavras que aprenderam na escola pentecostal: “Aleluia... Glória Deus...” Mas durante o dia eles só falam a linguagem da queixa.
Se está fazendo muito frio ou muito calor, e não chove, nós reclamamos: “Que dia horrível”.
Nada do que Deus fez pode ser considerado horrível. O clima é uma manifestação de o Seu grande poder. Também o são a neve, o calor e o gelo. Eu já aprendi a dizer: “Que belo dia ensolarado”! “Que belo dia chuvoso”! “Que belo dia de neve”! “Que lindo dia quente”! – Porque não? Todos eles são dias belos, porque Deus os fez, e Ele merece ser louvado por tê-los feito.
Paulo disse a Timóteu: “Tudo que Deus criou é bom, e, recebidos com ações de graças, nada é recusável” (I Tm. 4: 4). Se nós possuímos um coração agradecido, tudo é bom. Se não, tudo é sempre ruim.
Em Buenos Aires, às vezes, a temperatura sobe até 43°C, no verão. Então, quando está pelos 32° ou pelos 35°. Encontro com alguém que me diz:
Olá Pr. Ortiz, como é que o senhor vai passando com esse calor?
Vou bem, obrigado! Eu respondo. E você?
Ah, terrível.
Ah não irmão. Foi nosso Pai que ligou o aquecedor.
Quando o termômetro sobe para 38°, eles reclamam ainda mais. Mas o crente pode sentir orgulho de seu Pai. Que poder tem Ele! Para aquecer o prédio de uma galeria de lojas, por exemplo, são necessárias caldeiras enormes. Mas nosso Pai aquece o país todo elevando sua temperatura até 43°, e faz isso sem nenhuma dificuldade.
Ou então Ele congela tudo, e mata todos os germes de DDT. É fantástico.
Todos os anos, uma equipe russa de patinadores de gelo visita nossa cidade e dá um espetáculo ali. Eu já vi as imensas maquinas que eles têm que transportar consigo para produzir uma simples camada de gelo no piso do estádio.
Mas já vi como Deus congela todo o Canadá. E sem maquinário. Isso é o poder de Deus. “Glória a Deus pelo gelo e pela neve”.
Paulo disse também: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens” (I Tm. 2: 1). Certa vez, estávamos tentando louvar ao Senhor em um de nossos cultos sem dizer aquelas quatro frases, quando, num dado momento, pareceu-me que o Espírito tomou o controle de mim, e eu disse: “Senhor, nós vamos agradecer-te por algumas coisas ou pessoas em particular”. Vamos começar pensando no telefone. Geralmente, não lhe damos o devido valor – mas quanta gente contribui para o seu funcionamento. Quanto trabalho técnico! Graças te damos Senhor, pela companhia telefônica!
E todo o povo disse: Obrigado, Senhor, pela companhia telefônica.
“Senhor”; continuei, e quando nós abrimos à torneira, dali jorra água – quente e fria. Parece tão simples, mas quantos milhares de pessoas trabalham para que tenhamos água. Obrigado, Senhor, pelo departamento de águas.
E novamente o povo disse: “Sim. Nós te agradecemos Senhor, por ele”.
E nós continuamos agradecendo a Deus pelos professores, pelos motoristas de ônibus, pelos médicos, enfermeiros, policiais e até pelo prefeito de nossa cidade. Nunca havíamos feito tal coisa antes. Estávamos por demais atarefados com nossos “Aleluias” e “Glória a Deus”! Mas proibidos de falar estas palavras, tivemos que arranjar outras. E assim entramos numa nova dimensão de louvor.
Eu creio que Deus está cansado de ouvir queixas. Quando nós dizemos: “Senhor, nós te damos graças pelas boas realizações de nosso prefeito”. Eu acho que Deus diz: “Até que em fim! Alguém finalmente reconheceu que Eu realizei algum bem”!
Se um dia o telefone não funciona, começamos a nos queixar e esquecemos de todos os outros dias em que ele funcionou perfeitamente. Se um dia o pastor não prega bem, nos o criticamos, esquecendo das boas mensagens que ele já entregou.
Mesmo quando alguém morre, porque temos que nos entristecer, esquecendo-nos de todos os anos que aquela pessoa viveu?
Certa vez tive que dirigir um culto fúnebre de uma senhora que falecera aos setenta anos de idade. Eu não queria usar a linguagem das trevas, e por isso disse:
“Graças a Deus pelos setenta anos que essa senhora conviveu conosco! Deus é tão bom! Ele permitiu que ela vivesse entre nós todo esse tempo. Vamos agradecer-lhe por isso”.
Toda a atmosfera se modificou. Até mesmo o marido disse: “Graças te dou, Senhor, por teres me dado todo esse tempo ao lado de minha esposa”! Mais tarde, ele pediu que cantássemos um corinho cuja letra diz mais ou menos o seguinte:
Eu venho dizer-te
Eu venho dizer-te, meu Salvador.
Que eu amo a ti, que eu amo a ti,
De todo meu coração.
Oh! Eu estou tão feliz, estou tão feliz e cheio de gozo.

Este hino não seria muito apropriado para um culto fúnebre, mas foi o que ele quis cantar. Depois nós nos demos as mãos e começamos a dançar no Espírito – até o viúvo. Ele estava tão feliz com a revelação de que Deus dera aqueles 70 anos a sua esposa, que desejou fazer uma comemoração.
E porque não?
Temos que nos observar pra ver se estamos falando a linguagem certa. Se a que falamos é a do Reino de Deus, então temos que louva-lo todos os dias, o ano inteiro, e entender plenamente o que dizemos.

Extraído do livro “O Discípulo” – De Ruan Carlos Ortiz./Editora “Betânia”.
Compilado Por: Pr. Carlos Jr.


Ps.

Se todos colocarmos em pratica esses ensinamentos, nosso “louvor” será com certeza aceito por Deus. E esse é o objetivo da Igreja do Senhor, adora-lo com um perfeito louvor. Perfeito louvor é, não usar de vãs repetições... Precisamos saber o que estamos falando, mas na maioria das vezes falamos sem pensar ou não temos o que falar, e pra preencher o tempo usamos as palavras mais fáceis que nos vem à mente: “Gloria Deus e Aleluia”. Precisamos mudar isso. Precisamos começar a orar, falar com Deus com um pouco mais de sabedoria.
Quer sabedoria?
Então leia mais a Palavra de Deus, observe mais as “obras maravilhosas que Deus tem feito ao seu redor”. E, comesse a fazer valer realmente o Salmo 150: 2 em sua vida de crente.
Que Deus abençoe você ricamente.

Sinceramente.

Pr. Carlos Jr.